O tempo em uma sessão de análise

“o inconsciente é estruturado como uma linguagem” (Lacan)

Em uma análise lacaniana, trata-se o discurso, uma intervenção no discurso que é produzido no decorrer de uma sessão de análise, como tal, o analista não escuta, lê, pontua, sublinha o texto clínico produzido neste contexto. Faria sentido, neste contexto, que as sessões de uma análise tivessem um tempo predeterminado?

Talvez sim, caso se tivesse acesso, de antemão, ao texto a ser trabalhado.

No entanto, não se tem!

Deste modo, para se produzir um tratamento no discurso de uma análise, trabalhar com um tempo cronométrico para dar limites a uma sessão, não apenas não produz efeitos, como não é coerente com os pressupostos de uma análise lacaniana.

O silêncio, a repetição de uma palavra, um suspiro e o corte como encerramento de uma sessão, têm a função de pontuação do texto clínico da análise. A isso, se dá o nome de tempo lógico. Em uma sessão de análise lacaniana, não se trabalha com o tempo do relógio, o tempo de trabalho/hora, mas sim, com o tempo lógico. De qual lógica se trata?

Da lógica de tratamento sobre o discurso de uma analisante (comumente chamado de paciente, um equívoco), este tratamento se dá pela escansão (corte/interrupção) da sessão ou do discurso durante a sessão, uma demarcação, um momento em que o analisante está experimentando um ponto de conexão, clareza, discordância ou outra forma de irrupção do inconsciente, o que também pode sobrevir por meio da reverberação da linguagem, ao se marcar um significante, levantar uma questão ou ficando em silêncio.

Assim como os sonhos, a escansão pode então ser tomada como outra “Via Regia” (denominação dada por Freud) para o inconsciente; a escansão se mostra como outra via de acesso à verdade do inconsciente ao trespassar o discurso comum que formulamos para nós mesmos.

A partir da escansão (corte/interrupção) como técnica, orientada pela concepção de que o tempo no inconsciente possui uma lógica determinada e não uma cronológica, quando se corta/interrompe a sessão, o analista indica que ali se encontra um elemento a ser destacado, uma maneira de destacar o termo significativo produzido naquela sessão de análise.

[...] a suspensão da sessão, [...] desempenha aí o papel de uma escansão que tem todo o valor de uma intervenção, precipitando os momentos conclusivos."

"A suspensão da sessão não pode deixar de ser experimentada pelo sujeito como uma pontuação em seu progresso." (Lacan, 1953).

Assim, para uma psicanálise lacaniana operar e produzir seus efeitos, utiliza-se de outra relação com o tempo, o tempo lógico.